A GESTÃO DA SALA DE AULA NO TRABALHO CORPORAL |
NOGUEIRA, José Plácido |
A GESTÃO DA SALA DE AULA NO TRABALHO CORPORAL
COM JOGOS E BRINCADEIRAS José Plácido Nogueira De que maneira o professor ou professora pode organizar e gerir um programa de educação corporal com suas turmas, tendo como pano de fundo as atividades lúdicas? Existem, com certeza, muitos modelos de gestão da sala em educação corporal. Um desses modelos, que adotamos em nosso projeto de trabalho e, portanto, na rotina de nossas aulas, atende a seis dimensões: o repertório de atividades, o tempo, o espaço físico, os materiais, a ação e interação e diversidade e inclusão. Em princípio, é necessário que abandonemos a postura rígida, que caracterizava as aulas de Educação Corporal há algum tempo, em relação a sua organização, e optemos por criar um ambiente mais descontraído, rico em relações interpessoais, onde as informações possam circular, os aspectos afetivos e emocionais serem levados em consideração e todos os alunos e alunas estarem incluídos no processo de ensino-aprendizagem, tendo suas limitações, necessidades e interesses, não apenas respeitados, mas também levados em consideração. REPERTÓRIO DE ATIVIDADES Dentre as seis dimensões, parece-nos que o repertório de atividades é a dimensão que mais traz complicações aos professores, especialistas ou não. Ao elaborar um repertório de jogos, brinquedos e brincadeiras de movimento, pensamos que para além das contribuições que os saberes a respeito das características de cada faixa etária, desenvolvimento motor e da consulta aos diversos materiais escritos sobre atividade fornecem ao professor, este pode também recorrer à sua memória lúdica, ou seja, procurar lembrar-se das atividades que realizava quando criança que, além de ser um passeio gostoso por nossas lembranças infantis, pode fornecer atividades interessantes sob muitos aspectos. Registrar sobre essas brincadeiras, sua organização, espaço onde era jogado, com que materiais, suas regras, e refletir sobre as possibilidades de adaptá-los e utilizá-los nas aulas, será de grande contribuição. Por outro lado, podemos, também, realizar pesquisas com nossos alunos, fazendo um inventário de quais brincadeiras são conhecidas e jogadas por eles fora do âmbito escolar. Pedir para que eles relatem (no caso dos muito pequenos, que ainda não escrevem) ou escrevam sobre essas atividades, também sobre como se joga, regras, espaços, número de participantes etc, e depois joguem-nas. Essa prática, além de ajudar a aumentar o número de atividades do repertório do grupo, faz com que a classe estabeleça uma identidade com aquelas que ajudaram a construir, o que garante de antemão uma realização mais tranqüila. É possível também realizar essa mesma pesquisa com pais e avós das crianças e depois de organizado o repertório trazido por eles, pode-se convidar esses adultos para que venham até a escola ensinar e jogar junto com as crianças. Com certeza, será uma atividade muito especial e significativa para todos. Como sugestão, ainda oferecemos dois modelos de elaboração e escolha de atividades. O primeiro baseado na definição e classificação dos jogos desenvolvida e proposta por Roger Callois (1). Esse autor define o jogo, como uma atividade: Livre, uma vez que, se o jogador fosse a ela obrigado, perderia de imediato a sua natureza de diversão atraente e alegre; Delimitada, pois está circunscrita a limites de espaço, tempo, rigorosa e previamente estabelecidos; Incerta, já que seu desenrolar não pode ser determinado, nem o resultado obtido previamente, pois é deixado ao jogador uma certa liberdade na necessidade de inventar; Improdutiva, não gera bens, nem riqueza e conduz a uma situação idêntica a cada início de partida; Regulamentada, os jogos estão sujeitos à convenções que suspendem as leis normais e que instauram momentaneamente uma legislação nova, a única que tem validade; Fictícia, as atividades são acompanhadas de uma consciência específica, de uma realidade outra, ou de franca irrealidade em relação a vida normal. Callois propõe ainda, para aqueles que conduzem a atividade, que percebam a existência de duas forças opostas. Uma delas diz respeito à algazarra, agitação, riso, denominada por ele Paidiá; e a outra está relacionada à disciplina, organização e estratégia, que é chamada de Ludus. Desde cedo, nos primeiros jogos infantis, percebe-se a presença do prazer pela destruição (derrubar, desmontar, espalhar) e pela organização (montar, guardar, construir). Portanto, essas duas forças, em alguns jogos, estarão presentes individualmente, é o caso de Paidiá, nos jogos de pega -pega, piruetas, ou juntas numa mesma atividade, onde Paidiá e Ludus se fazem presentes. Às vezes Ludus se manifesta sozinha, onde a disciplina é rigorosa, na ginástica olímpica e balé, por exemplo. Assim, cabe àqueles que conduzem a atividade considerar e respeitar esses dois elementos como parte de qualquer jogo, e não encará-los como indisciplina ou descontrole dos participantes. Diante dessa definição e da constatação da existência desses dois componentes nos jogos, Roger Callois propõe ainda a seguinte classificação dos jogos e os coloca sob quatro naturezas distintas: Agon, Alea, Mimicry e Ilinx. AGON Agon corresponde aos jogos norteados pelo desafio, pelo conteste, pela aferição de força, onde a rivalidade se baseia em qualidades como rapidez, resistência, memória, engenho, habilidades motoras e cognitivas. Essas atividades são realizadas em limites espaciais, de tempo e regras definidos, sem nenhum auxiliar exterior, de tal forma que o vencedor apareça como sendo o melhor, numa determinada categoria de proezas. A igualdade de oportunidades entre os jogadores é sempre procurada e é o princípio essencial dessa rivalidade. ALÉA Os jogos correspondentes a Aléa são aqueles baseados na sorte. Onde o resultado não depende das habilidades dos participantes. Aléa está em oposição a Agon, e coloca todos em pé de igualdade frente ao destino. MIMICRY Os jogos de Mimicry derivam das simulações e estão diretamente ligados ao disfarce, à representação, à mímica, imitação e faz-de-conta. Esses jogos surgem a partir dos dois anos de idade, mais ou menos, nas situações simbólicas e representativas. ILINIX Ilinx são jogos relacionados à perda momentânea de controle, que buscam a vertigem, o desequilíbrio e a instabilidade perceptiva. Vale ressaltar que, muitas vezes, os quatro tipos de jogos estão presentes numa mesma atividade e que todas elas são fontes de prazer e satisfação para aqueles que delas participam. Em relação aos desafios, faça adaptações adequando-os, tomando o cuidado para que não estejam nem aquém, nem além das possibilidades da crianças. E quanto às regras, também há necessidade de se fazer adaptações, convém considerar que quanto menores forem as crianças, mais simples deverão ser as regras dos jogos e brincadeiras.O professor pode procurar ainda estabelecer um canal de comunicação com as crianças, principalmente com os menores, onde possam estar falando sobre as regras, discutindo, apresentando sugestões para mudanças etc, o que possibilitará, ao longo do processo de ensino e aprendizagem, que as crianças, conforme vão crescendo, realizem essas discussões e acordos autonomamente. Gostaríamos de chamar atenção, no entanto, para o fato de que embora muitas vezes escola e rua guardem semelhanças, tratam-se diferentes, podemos aproveitar situações de ambas. Deve-se tomar cuidado, porém, para não ensinar na escola como se ensina na rua. TEMPO Quanto ao tempo destinado às aulas de cultura corporal na Educação Infantil, se pudéssemos decidir, é obvio que optaríamos por ter o maior número de sessões por semana. O tempo de duração que consideramos ideal é de 30 minutos por sessão. No Ensino Funda |
26/08/2006 |
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