BRINCAR PARA QUÊ?
Elizabeth Monteiro
Brincar é bom. É o melhor remédio para uma criança. A maioria dos pais não imagina o quanto as brincadeiras ajudam a criança e contribuem para que venha a ser um adulto criativo e bem sucedido.
Brincar também faz bem para os adultos e na maioria das vezes não tem efeitos colaterais prejudiciais à saúde. Claro que sempre é bom estar atento às brincadeiras de seu filho. Brincadeiras com armas de verdade, objetos ou locais perigosos podem ter um final infeliz. Mas de modo geral, todo aquele exercício de imaginação faz um bem imenso para a família inteira.
Quando falamos de brincar, temos que diferenciar primeiramente brinquedo de brincadeira.
Brinquedo é o objeto com o qual a criança brinca: o carrinho, a panela, a boneca, o vaso de cristal, a caneta Mont Blanc, a arma, o travesseiro, o cachorro, o irmãozinho recém nascido, a fralda que ela cheira, as fezes, enfim tudo o que possa ser uma representação simbólica do universo infantil. Algo que substitua e represente o objeto real.
Brincadeira é o ato de brincar, a ação lúdica. A ação da criança junto aos objetos (brinquedos) que a possibilita construir o seu conhecimento, desenvolver suas habilidades sensoriais e perceptivo -motoras, elaborar e descarregar os seus conflitos e assim aprender a lidar com as suas emoções.
A brincadeira é considerada também como metacomunicação. Ou seja: nela a criança desenvolve a capacidade de se colocar no lugar do outro e compreender como este outro pensa.
O QUE OS ESPECIALISTAS ACHAM.
Diversos estudiosos das áreas da educação, saúde e comportamento estudaram e ainda estudam a atividade lúdica infantil.
Freud foi o primeiro a descobrir as propriedades psíquicas das brincadeiras, ao observar uma criança de dezoito meses brincando com um carretel de linha.
Esta criança jogava o carretel até uma distância onde não conseguia vê-lo. Diante de sua ausência, a criança expressava tristeza. Logo depois, ela puxava a linha e o carretel voltava para s, deixando-a extremamente alegre. Fazia o carretel aparecer e desaparecer de seu campo visual repetidas vezes, o que Freud percebeu ser uma brincadeira utilizada para que a criança elaborasse as situações de distanciamento da mãe. O brinquedo permitia que ela jogasse a mãe (carretel) para longe de si, descarregando assim suas fantasias agressivas, e a recuperasse, satisfazendo assim o seu amor.
A criança era dona da situação e podia elaborar a sua angústia diante de cada afastamento materno, a angústia de separação.
Jean Piaget estuda a brincadeira como algo que está dentro do conteúdo da inteligência, a serviço da construção do conhecimento. Isto significa que é somente agindo sobre os objetos que a criança irá conhecê-los. Se ela não manipulá-los não agir sobre o mundo, este se apresentará como quadros à sua vista e não será assimilado por ela.
Arminda Aberastury vê as brincadeiras como a expressão dos medos, angústias e problemas do mundo interno da criança. Através delas, a criança expressa todas as situações que são traumáticas ou pesadas para o seu Ego frágil, e as vai dominando. Ela torna ativo aquilo que sofreu passivamente, podendo modificar um final que tenha sido doloroso. Transforma o proibido na vida.
É o meio de estudar a criança e seu comportamento. Assim como os sonhos, as brincadeiras também são a porta de entrada para o inconsciente.
Leontiev, Luria e Vygotsky, psicólogos soviéticos que estudaram as bases psicológicas da aprendizagem e do desenvolvimento, consideram que a capacidade de raciocínio e a inteligência, as idéias e as interpretações do que rodeia a criança, o domínio das formas lógicas do pensamento e da lógica abstrata são processos autônomos não influenciados pela aprendizagem escolar. A verdadeira aprendizagem infantil começa muito antes da aprendizagem escolar. Começa em casa, num contexto sócio-cultural, e nunca deve acontecer separando a linguagem da ação.
Estes psicólogos soviéticos atribuem à criança um papel ativo em seu desenvolvimento. Ela não deve ser o objeto somente, mas o sujeito do aprendizado, uma vez que este é um processo autônomo.
A ação comunicativa que se desenrola nas brincadeiras com outras pessoas facilita não só a aprendizagem da língua como também a da convivência social.
D. W. Winnicot diz ser a brincadeira algo universal e próprio para a saúde, que facilita o crescimento, conduz os relacionamentos grupais e o relacionamento interpessoal.
O que existe de mais natural para a criança é o brincar. O fantasiar interfere nas ações no mundo real, mas muito mais na realidade psíquica.
Isaak Mielnik observa que os jogos de imaginação e a imitação do comportamento adulto nas brincadeiras fazem com que a criança se torne mais segura em suas tentativas de responsabilidade e de criação, principalmente diante de situações novas.
T. Berry Brazelton afirma que um bebê que se mostra indiferente aos brinquedos e aos contatos com sua família pode estar apresentando sinais de possíveis lesões neurológicas, ou de um distúrbio do desenvolvimento chamado autismo.
Raquel Soifer, complementa estes estudos quando percebe que a brincadeira é o antecedente do sonho diurno ou as fantasias conscientes.
As fantasias conscientes ou o sonho diurno surgem como substituição do brinquedo infantil e são diferentes das brincadeiras porque as crianças se envergonham delas e acabam por escondê-las, o que não acontece durante a atividade lúdica, que é exibida e compartilhada.
Para Anna Freud, não existe nada mais importante do que o brincar. Para esta conhecida psicanalista, a educação nada mais é do que uma luta entra esta atividade e a criança. A educação pretende substituir o gosto pela porcaria pelo nojo, a ausência da vergonha pelo pudor, a curiosidade e o tocar o próprio corpo pela malícia e a proibição. Passo a passo, portanto, a educação pretende, na maioria das vezes, exatamente o oposto do que a criança quer e precisa.
Erikson vai mais além ao estudar as sociedades antigas e puritanas em que todo tipo de diversão é visto como um pecado. Ele encontra aí uma explicação inconsciente para que o adulto impeça tanto a criança de brincar.
Romântico foi William Blake ao dizer que os brinquedos das crianças e as razões dos anciãos são os frutos das duas estações.
QUE IMPORTÂNCIA ISSO TEM?
Eu poderia escrever páginas e mais páginas, citando um número incontável de estudiosos para provar a importância dos brinquedos. O mais importante, porém, é o que fazer para que a infância seja mais feliz.
O que torna uma criança mais feliz ou infeliz do que as outras?
A felicidade não é um estado permanente. Pode-se estar feliz ou infeliz por alguns momentos ou períodos da vida.
O que faz com que uma criança possa desfrutar de mais momentos de felicidade, sem dúvida alguma, é o ambiente em que ela se desenvolve, particularmente a compreensão e aceitação de seus pais.
O amor em si não é suficiente, principalmente se for superprotetor. Superproteção exagerada pode estar encobrindo uma forte rejeição.. Dar tudo o que a criança deseja a impede de aprender a lidar com as frustrações. Realizar todas as suas vontades tira-lhe a iniciativa em direção às próprias satisfações.
Um presente nunca substituirá um carinho, uma atenção. Nunca suprirá a sua carência afetiva.
As necessidades das crianças não consistem em mudar de atividade ou de brinquedo. Na maioria das vezes, elas têm necessidade de mais amor e maior compreensão de suas angústias. No mundo atual, elas temem ser abandonadas caso não correspondam às expectativas do outro e sentem muita necessidade de aceitação.
Dar novos brinquedos a seu filho talvez aumente a sua inquietação. Ele pode se interessar pela novidade por algum tempo, mas logo abandoná-la. Para ajudar a criança, precisamos buscar a origem de seu descontentamento. Precisamos acessar a nossa sensibilidade para tentar escutá-la e compreendê-la.
A criança possui o seu próprio mundo

14/08/2008

 


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