BRINCADEIRAS, JOGOS E BRINQUEDOS AOS OLHOS DO EDUCADOR E MARCENEIRO MARCELO JABU
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Marcelo Jabu |
O nosso entrevistado, MARCELO JABU, tem dois ofícios. É professor, formador de educadores, é marceneiro, fazedor de jogos e brinquedos. Tem olhos de JABUticaba bem atentos às crianças e, nesta caixinha negra de bom parecer, guarda cuidadosamente passagens significativas da sua infância. Partilhe conosco esta gostosa conversa, pontuada pela mão marceneira, pela mão educadora e pela maneira como elas foram se entrelaçando ao longo da história.
Em uma mão O ofício da marcenaria acompanha a sua família há mais de uma geração, gostaríamos que você nos contasse um pouco desta história, com que idade você começou a se interessar pelo que acontecia ao seu redor, as lembranças que tem deste tempo. Sou neto de imigrantes portugueses por parte de pai e de italianos por parte de mãe. A parte italiana da família era muito grande, pois meus bisavós tiveram 16 filhos - 12 mulheres e 4 homens - todos com nomes iniciados pela letra E: Vó Eneide, Tia Elza, Tia Egle, Tia Eligia, Tia Elda, Tia Edméia, Tia Eglia, enfim, não vou me lembrar de todas. Entre os homens, tanto meu Bisavô Getúlio Boccato, como meus Tios Edmundo, Tio Ezzio I e Tio Ezzio II eram marceneiros. Vô Túlio, como nós chamávamos meu bisavô, morreu aos 84 anos de idade, atropelado por um ônibus ao atravessar a Avenida Celso Garcia, indo com sua maleta de ferramentas trabalhar na oficina. Desta parte da família lembro mais das histórias que ouvia desses tios sobre o ofício de marceneiro que eles contavam entre si, pois eu era muito pequeno e a convivência com esses tios acontecia em momentos ocasionais como casamentos e enterros. Imagino que não deveria ser muito fácil reunir uma família de 16 famílias com muita freqüência. Para se ter uma idéia a principal diversão nesses encontros era ser apresentado a "primos novos", filhos da filha da Tia ... Os meus primeiros contatos com a marcenaria acabaram por se dar pelo lado do meu pai, que embora não fosse marceneiro, tinha uma lojinha de materiais de construção onde havia uma pequena oficina de montagem de esquadrias de madeira e de cabos de espingarda de ar comprimido. Foi nessa oficina que eu comecei a pegar gosto pela coisa! Os personagens desta oficina eram os seguintes: Seu Chico Marceneiro, que era surdo e usava o aparelho de surdez pendurado no pescoço, para não ter de escutar o barulho das máquinas e que só punha o aparelho no ouvido quando alguém se aproximava para conversar. Ele era um homem muito alto, e usava um chapéu coco de feltro com um pedaço de espuma dentro, para se proteger das cabeçadas, que vivia dando nas vigas do telhado da oficina de pé-direito meio baixo. Tinha o Seu Chico Carpinteiro, baixo e magro, com uma perna mais curta que a outra, mancava, andava sempre com um cigarro pendurado no canto da boca e falava o tempo inteiro. E, por último, tinha o Enéias, cujo apelido era "Sarrafo", italiano, mulherengo, mentiroso e teimoso. Foram esses meus primeiros companheiros de trabalho e foi com a ajuda deles que eu construí meu primeiro projeto: uma caravela de madeira para um concurso promovido na escola em que eu cursava a 1ª. Série do Primário!, Lá se vão portanto 41 anos de construções... Lembrar dessas pessoas é lembrar que todos se orgulhavam de ter todos os dedos, do barulho da serra de fita, da esquadrejadeira, da desempenadeira, da lixadeira, da furadeira horizontal, da poeira constante, do cheiro de imbuia, de canela, de cerejeira, de mogno, de marfim - que não tem cheiro -, de óleo de linhaça, de óleo de peroba, do medo que se deve ter das máquinas, da pedra de afiar o formão e de como afiar o formão na pedra. É lembrar de todo dia 1º. de Maio, quando meu pai fechava a oficina e íamos todos ao Bar Valadares comer empadinhas e eles, claro, beber batidas de coco, de maracujá, de caju. E de que, depois da farra, meu pai levava um por um em casa na Kombi que era usada para as entregas do depósito. Com a ajuda desses companheiros eu passava tardes 26/08/2006 |
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