A FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS BRINCANTES

Enviado por: Adriana Friedmann Data: 16/05/2005
Título: "BRINCAR, SEMPRE BRINCAR: das teorias às práticas em sala de aula"
Mensagem
Desde que o homem se conhece por homem ele tem brincado mas, somente no último século e, sobretudo nos últimos 50 anos, a questão do brincar tem sido objeto de estudos e pesquisas sob os mais diversos enfoques e teorias. Porém, a prática do brincar no dia a dia das crianças tem se tornado cada vez mais rara, tanto dentro da escola quanto na rua, nas comunidades e até dentro de casa.

É fato o grande aumento de publicações a respeito do Brincar e sua importância, o grande incentivo para as ações de brincar que chegam através de inúmeros meios de comunicação e as várias atividades sendo desenvolvidas para estimular o brincar formal e não formal, assim como a procura por cursos, oficinas, palestras, etc. a este respeito.
Mas nas práticas do dia a dia o brincar fica muito mais para "a hora do recreio", "o dia do brincar", ou ligado ao consumo de brinquedos do que propriamente ocupando o lugar que lhe cabe e que as inúmeras pesquisas não cansam de ressaltar: o brincar como necessidade essencial da criança, como linguagem expressiva, como atitude, como potencial de desenvolvimento social, cognitivo, emocional, ético, corporal, entre tantos outros.

A questão que trago para debate é: como seria viável que as teorias e pesquisas cheguem efetivamente às práticas? Como efetivamente encurtar esta distância entre o discurso acadêmico e o assumir o lúdico como atitude educacional, especialmente dentro da educação infantil e elementar?



Comentários

Enviado por : ADRIANA FRIEDMANN Data: 15/12/2005
Prezadas Conceição e Tereza,
Antes de tudo, obrigada pelos e-mails carinhosos e envolventes. Penso, e falo aqui a partir da minha experiência, que este universo do brincar não é para ser compreendido somente "na cabeça", pensando e refletindo sobre, mas, sobretudo, através de vivências-brincadeiras adequadas aos adultos-educadores-cuidadores. Estas vivências ficam na memória do corpo e do coração e é aí que nós adultos podemos, verdadeiramente, compreender a necessidade profunda do brincar na vida da criança e também nas nossas próprias vidas. Esse brincar não precisa ser "infantilizado" mas adapatado a estes adultos, sejam eles professores, pais, coordenadores e até os atendentes da instituição: cada um tem uma história de vida especial para "contar", para partilhar e isto pode ser feito através do brincar com o corpo, com a expressão plástica, musical ou simplesmente através de jogos e brincadeiras.
Continuamos nossas trocas.
Com carinho
Adriana Friedmann



Enviado por : Conceição Data: 22/11/2005
Você não imagina o meu prazer em tc com vc. Te admiro de montão. Acredito que a seleção dos profissionais interessados seria um primeiro passo, porque ele tem que contagiar, amar de verdade, se doar. Não simplesmente colocar a criança para brincar e observar, ou até mesmo aproveitar aquele tempo para outros planejamentos. Infelismente é isto o que vejo muitas vezes aqui em minha cidade. Aquele que se envolve, registra, e através destes registros propagar os efeitos. Outra coisa importante é este profissional, ele próprio brincou de forma legal um dia? Ou ele cresceu, vendo televisão? Bom espero ter contribuido com alguma coisa. Um grande abraço. Conceição

Enviado por : Tereza Data: 27/10/2005
ADRIANA É UMA HONRA TC PRA VC. CONCORDO EM "GÊNERO E NÚMERO" QUE A PRÁTICA DO BRINCAR ESTÁ LONGE ATÉ NAS INSTITUIÇÕES INFANTIS. FUI CHAMADA PARA ORIENTAR A MONTAGEM DE UMA BRINQUEDOTECA NUM CENTRO DE EDUCAÇÃO INFANTIL COM CRIANÇAS DE 3 MESES ATÉ 6 ANOS. FIQUEI PREOCUPADA E CHEGUEI MOSTRANDO QUE O PORTÃO DA "ESCOLA" ERA A ENTRADA DE UMA GRANDE BRINQUEDOTECA E QUE AS CRIANÇAS SABEM DISTO. QUE ELAS VÃO PRA BRINCAR. OU ELA TEM QUE "ESTUDAR"??????
FIZEMOS UM DEBATE MAS É DIFÍCIL ACEITAREM O ÓBVIO. GOSTARIA DE MAIS DICAS PRA ESTE CASO. UM ABRAÇO TEREZA MIRIAM PIRES NUNES - zamiranunes@gmail.com - SOU DA PROFESSORA DA REDE MUNICIPAL DE CAMPINAS

Enviado por : Ruth E. de Martin (LABRIMP-FE-USP) Data: 28/09/2005
Acredito que o brincar e a brincadeira deva fazer parte dos cursos para profissionais dos mais variados níveis de formação que interajam com crianças. Somente dessa forma a criança terá suas funções sociais, motoras e cognitivas desenvolvidas, principalmente de forma prazerosa.

Enviado por : Cecília Aflalo Data: 12/09/2005
Adriana, obrigada por sua colaboração ela é realmente importante porque nos faz ver que é verdade o fato de que o brincar tem se tornado, a cada dia, tema de mais discussões, leituras, pesquisas, textos, cursos de capacitação para professores. Estas conquistas têm sido, no que se pode observar, mais na linha de resgatar os jogos como facilitadores da aprendizagem, e mais, do prazer de aprender, o que é sem dúvida um ganho incomensurável. Mais lenta, no entanto, parece estar sendo a valorização efetiva da brincadeira em si, do seu re-conhecimento como fundamental no desenvolvimento infantil que gera a necessidade de um tempo real na vida criança para ela brincar livre e espontaneamente, sem a interferência dos adultos, inclusive dentro da escola, assim como são reconhecidas, na nossa cultura, as necessidades do tempo para estudar, para ler, para fazer exercícios físicos, para comer e dormir.

Ainda é difícil para muitos pais e professores perceberem, na prática, que as brincadeiras - principalmente as de faz de conta - em sendo uma forma de livre expressão de fato das crianças, também são um canal direto de comunicação entre elas e os adultos que podem vir a aprender muito com seus filhos e alunos, apenas observando do quê e como as crianças brincam. Entre outras coisas, a observação permite identificar qual visão sobre o mundo dos adultos as crianças estão trazendo para as suas brincadeiras. A partir daí, estas questões poderão ser aprofundadas enriquecendo discussões e pesquisas.

Uma outra forma de trazer as brincadeiras de faz de conta para dentro da sala de aula é a de disponibilizar ou confeccionar com elas determinados materiais que reproduzem situações da vida real onde as crianças poderão, brincando à sua maneira, tornar mais fácil e prazeroso o processo de percorrer tantos conteúdos considerados chatos e de difícil compreensão. A brincadeira de SUPER MERCADO, por exemplo, traz inúmeras possibilidades interessantes de percorrer várias áreas do conhecimento teórico e prático: montando o ambiente do supermercado - desenhando e pintando os cenários -, providenciando os produtos que podem ser de brinquedo ou feitos de papier machê, argila ou mesmo aproveitando embalagens vazias. Fazendo a lista de compras, porque comprar tais e tais coisas; o que os alimentos têm de importante para o nosso corpo, quais as diferenças entre eles, como verificar a validade dos alimentos, o que acontece com um alimento vencido; como fazer economia.
_Quanto vamos gastar se comprarmos tudo que estamos levando?
_Será que é necessário duas dúzias disto aqui?
_Acho que vou levar só um quarto do queijo.
_Dois quilos é muito, acho que vou levar só 100 gramas.

Uns serão os vendedores que poderão dar as explicações a seus clientes, outros serão os compradores que querem saber porque as coisas estão tão caras!
_Como vamos fazer para pagar a conta? Cheque, dinheiro ou cartão? Qual a diferença entre eles? Como preencher?

Só na brincadeira de ir ao Supermercado, quantas coisas poderão ser exploradas, quanto temas poderão ser abrangidos, quantos papéis representados. Que troca interessante poderá ocorrer entre os professores e as crianças! A brincadeira de faz de conta é um universo infinito de ricas possibilidades de exploração do real através do imaginário. Ela flui espontaneamente nas crianças e poderá ser acessada rapidamente pelos professores e pais que se dispuserem a re-contactar o mundo mágico das fantasias de nossa infância.


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