Tema: A FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS BRINCANTES
Enviado por: Silvia Szterling Munimos Data: 10/11/2005
Título: AS MIL E UMA FACES DO BRINCAR
Mensagem
No princípio criou Deus os céus e a terra. E a terra era vã e vazia, e (havia) escuridão sobre a face do abismo (...).
O princípio da criação, tal como descrito no Velho Testamento da Bíblia, assemelha-se em mais de um aspecto aos primórdios da vida humana.
Aos olhos do recém-nascido o mundo é caótico: os objetos e as pessoas aparecem e desaparecem como quadros móveis e inconsistentes; o olho que vê, a mão que pega e a boca que apre(e)nde não se coordenam entre si; não há um corpo integrado, nem um "eu" diferenciado do outro; não há fora, nem dentro.
Como a escuridão sobre a face do abismo.
Mas eis que o pequeno homem, à imagem e semelhança de Deus, começa a pôr ordem em tudo. E ele o faz como o Criador: transformando o caos à sua volta num espaço de objetos discriminados, (re)criando-o através da "mágica" que traz o ursinho de pelúcia para si quando puxa o tapete onde ele jaz deitado, ou que faz tocar os sininhos quando balança o fio que os sustém.
Através da brincadeira o filhote humano se põe a pensar. Busca os meios adequados para atingir os fins almejados. E se torna um desbravador, torna-se "um".
A chave que gira na fechadura da porta anuncia o retorno da mamãe. Ela vai e vem à sua revelia. Vamos representar mamãe partindo? Vamos representar mamãe voltando? É um esconder-se e reaparecer atrás da cortina, um iô-iô que vai e volta, uma palavra evocada que a traz para casa.
O jogo do faz-de-conta é guiado pela necessidade da criança pequena modificar o mundo adulto, tratando de compreendê-lo e digeri-lo aos poucos, na medida de suas limitadas possibilidades cognitivas e de sua quase ilimitada dependência afetiva.
Brincando a criança aprende as leis dos objetos, e as complexas leis que regem as relações humanas. Elabora suas frustrações e busca compensações.
O sonho não acabou, está apenas começando.
A criança dá cambalhotas. A criança vai e vem sozinha de casa para a escola. Pedala sua bicicleta. Erra, cai, levanta e se aprimora.
Ela aprende as regras do jogo. A princípio pedaços de regras, que faz e desfaz a seu bel-prazer. Depois coordena os pedaços e aprende a ganhar; mais duro é perder. Mas há que saber perder para poder se superar.
A criança constrói. Desconstrói. Perscruta tudo curiosa.
Ela se socializa, informa, pergunta, responde, influencia.
A criança brinca e erra, brinca e se supera, brinca e aprende, brinca e ensina, vive brincando, brinca vivendo...
Então por que o caderno e o livro, o computador e a prova ganham cada vez mais status em detrimento do brincar na escola?


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