BRINCANDO COM E NAS DIVERSIDADES
Nayana Brettas Nascimento
A invisibilidade da infância nos espaços públicos da cidade revela quais são seus lugares sociais na cena urbana. Os espaços do brincar com os parques infantis, e os espaços educativos com as escolas, constroem uma cartografia urbana da infância.
A delimitação de lugares específicos para as crianças na cidade “denuncia” uma situação de exclusão urbana da infância. Assim, elas vão sendo “impedidas” de entrar em contato e interagir com as diversidades urbanas (sociais, raciais, econômicas, raciais) a partir de sua forma própria de expressão, manifestação e ação – o brincar.
O brincar ao ar livre foi sendo substituído pelo brincar em espaços interiores cobertos e fechados de menor dimensão opondo os interesses dos pais – deixar seus filhos em locais seguros – aos anseios e desejos dos filhos – brincar com liberdade em espaços abertos com todos os sujeitos sociais.

Distanciadas de participarem da construção e da ocupação do espaço da cidade, as crianças ficam destinadas ao espaço da casa, do play, da escola, e cada vez menos freqüentemente da rua. Espaços que são construídos para elas e não por elas (Castro, 2004, p.74)

As ruas e praças, que na Idade Média, eram o local da sociabilidade e o palco do brincar entre as diversidades desaparecem e passam a desempenhar a função de uma ponte de ligação entre um espaço privado e outro, fazendo do espaço público um local de passagem em uma cidade vista como pretexto.
Na cidade pretexto, a relação que se constrói com o espaço urbano e com as pessoas é de passagem, de modo que o contexto urbano é utilizado para atingir determinados fins, como morar, trabalhar, estudar, viajar etc. As pessoas transitam e circulam pela cidade com o objetivo de chegar em casa, ao local de trabalho, à escola etc.
Na cidade contexto, os habitantes citadinos têm uma relação direta com a cidade, transformando-a em contexto de passeio onde as pessoas se encontram, conversam, socializam, brincam. A cidade, neste caso, é utilizada como o próprio contexto sócio-cultural e palco das brincadeiras.
As escolas regulam o tempo urbano da infância, determinando quanto tempo irá “sobrar” para entrarem em contato e se relacionarem com a cidade. Os horários de entrada e saída das escolas, ditados pelos toques das sirenes, controlam os processos de enchimento e esvaziamento de crianças pelas ruas que, diariamente, transitam pelos espaços citadinos trajadas com seus uniformes escolares e mochilas nas costas.
A relação das crianças com a cidade é observada nestes intervalos de tempo em que transitam de casa para a escola e da escola para casa. Observamos que elas brincam de acordo com as próprias necessidades, mediante uma leitura metafórica e um uso lúdico dos espaços e equipamentos urbanos.
As crianças revelam a preferência por brincar com a cidade ao invés de brincar na cidade, como querem os adultos, em locais específicos para o brincar, que garantem a sua tranqüilidade pelo fato de saberem que ali as crianças estão afastadas dos males da rua.
Ter as crianças circulando e ocupando os espaços públicos da cidade contribui para o resgate da ludicidade dos adultos que vêem as ações e manifestações lúdicas das crianças com e na cidade.
A escola pode ser o elo de ligação entre os diferentes sujeitos sociais promovendo o brincar com e na diversidade. Através de passeios urbanos, de oficinas de leitura, brinquedos, brincadeiras, a escola torna visível a presença da infância nos cenários e espaços urbanos integrando as crianças com os diversos habitantes que configuram uma cidade por meio do brincar.

Bibliografia
Castro, Lúcia Rabello (2004). A Aventura Urbana: Crianças e Jovens no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: 7 Letras.
Didontet, Vital. (2006) “Uma Cidade Para a Criança”. Cadernos Cenpec – Educação e Cidade. São Paulo, n 1, p. 111-119, primeiro semestre de 2006.
Lima, Mayumi Sousa (1989). A Cidade e a Criança. São Paulo: Nobel.
Oliveira, Cláudia (2004). O Ambiente Urbano e a Formação da Criança. São Paulo: Aleph.
Sarmento, Manuel Jacinto (2004). “As Culturas da Infância nas Encruzilhadas da Segunda Modernidade”, in Sarmento, Manuel Jacinto e Cerisara, Ana Beatriz (2004). Crianças e Miúdos: Perspectivas Sociopedagógicas da Infância e Educação. Porto: Edições ASA.
Tonucci, Francesco (1997). La Ciudad de los Niños. Roma: Fundación Germán Sánchez Ruipérez.
A invisibilização da infância nos espaços públicos da cidade revela quais são seus lugares sociais na cena urbana. Os espaços do brincar com os parques infantis, e os espaços educativos com as escolas, constroem uma cartografia urbana da infância.
A delimitação de lugares específicos para as crianças na cidade “denuncia” uma situação de exclusão urbana da infância, já que não é vista como ator social pertencente e com direito à cidade.
Leia mais: "A Cidade (Re)criada pela Infância"
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18/08/2009

 

 

 
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