Pode-se dizer, que o espaço lúdico oferecido na proposta de brinquedotecas é recente, isso talvez, seja o motivo pelo qual, ainda é visto por muitas pessoas, de forma pejorativa, no qual, parte dos profissionais da área de ensino, ainda acreditam que este seja apenas um lugar onde os alunos, "passam o tempo".
Meu interesse nesta área foi despertando a partir de uma realidade que vem sendo vivenciada no Centro Universitário em que estudo, o qual possui, uma equipe preocupada em resgatar a importância do brincar, através de estudos e de pesquisas, dentro de um espaço lúdico, denominado de Laboratório de Ensino Brinquedoteca - Espaço alternativo de Lazer e de Aprendizagem. Este, é um Laboratório de Ensino, de Pesquisa e de Extensão, destinado a professores, acadêmicos e comunidade em geral, no qual são desenvolvidas atividades lúdicas que contribuem para o desenvolvimento de práticas educacionais, constituindo-se num setor de apoio às disciplinas dos cursos de licenciatura como também, referencia para os demais cursos da Instituição, entre eles Fisioterapia e Enfermagem.
Desenvolver a aprendizagem através de atividades lúdicas me parece algo relativamente simples, mas significativo. Sendo que, ao longo de algumas disciplinas, ministradas pela professora Jacqueline Harres, coordenadora da Brinquedoteca, passei a lançar um novo olhar sobre o brincar, acreditando que apesar de estar presente desde os tempos mais remotos, em simples brincadeiras como as de faz-de contas, amarelinha, bolinhas de gude, pode vir a ser uma proposta inovadora. Porém é necessário, que o educador, tenha objetivos claros, repensando sua metodologia de trabalho, promovendo atividades lúdico-pedagógicas, a partir de vivências na área da ludicidade, para desencadear assim, novas formas de aprendizagem.
Através deste meu interesse por esta área, surgiu a oportunidade de trabalhar como bolsista no setor da Brinquedoteca, no qual desempenho atualmente a função de brinquedista. Isto possibilitou-me uma vivência que revela a realidade que cerca este tipo de espaço, assim como o desafio de quem o defende.
É possível observar, que a proposta do brincar aliada a aprendizagem ainda enfrenta, alguns preconceitos de muitas pessoas, como pais e educadores, e até mesmos de alguns alunos, por estes, acreditarem que a aprendizagem é tão somente fruto de atividades desenvolvidas em sala de aula, local em que os alunos são submetidos a atividades direcionadas, conforme exigências do currículo, que geralmente, não evidencia o brincar, por este ser visto, pela sociedade cada vez mais imediatista, como algo não produtivo. Podemos observar que "Certos" educadores, proporcionam o brincar a seus alunos, durante as aulas, apenas "quando sobra um tempo"ou então, como forma de recompensa "somente após a realização das atividades dirigidas, consideradas mais importantes. Esta concepção, está muito presente ainda e pode ser percebida na postura de certos educadores e até mesmo nas próprias crianças, que já trazem consigo a idéia de que é preciso se "comportar" para que a professora os traga novamente à brinquedoteca.
Acredito, que muitos ainda, não tem clareza das funções de uma brinquedoteca, pois assim como ela pode ser um espaço lúdico, onde a criança brinca livremente, desenvolvendo sua criatividade, aprendizagens e socialização, também pode ser um ambiente que desencadeia diferentes formas de aprendizado, através de atividades dirigidas, no qual o brinquedista centraliza os objetivos a determinadas áreas do conhecimento, conforme o interesse ou necessidade dos alunos. Observo, que a procura pela brinquedoteca, ainda representa, para alguns educadores, um "passa tempo", por não atribuírem um significado a visita, na medida em que percebe-se um interesse em apenas "deixar" os alunos sob os cuidados de outra pessoa, dispensando sua presença.
Observo que somos fruto de um sistema, despreocupado com a educação de cidadãos conscientes, e que para constituirmos uma visão crítica, fazem-se necessário vários fatores, no qual citaria a inquietação como sendo um dos mais importantes, talvez por este, ter sido o que me levou a dirigir um novo olhar sobre o brincar. Contudo, confesso, que minha postura inicial como brinquedista, restringia-se a um atendimento assistencialista, portando-me como simples assistente do público ao qual procurava a Brinquedoteca, auxiliando-os quanto aos espaços e materiais e acreditando que a minha função seria apenas, a de permitir que principalmente o público infantil, brincasse livremente, sem intervenção, não propondo atividades ou desenvolvendo jogos e brincadeiras. Hoje, após estudos realizados juntamente com a equipe da brinquedoteca, assim como, as aprendizagens proporcionadas por alguns cursos, percebi que minha função ia além, fazendo-se necessário desmistificar o rótulo do brincar, colocando-o num lugar justo em nossa vida.
Acredito que uma das maiores oportunidades que contribuíram para ampliar meus conhecimentos nesta área, surgiu durante a participação no curso de brinquedista, realizado no início do ano de 2005, na Universidade Federal do Rio Grande de Sul, oportunidade em que, muitas das minhas dúvidas, tornaram-se mais lúcidas através das sugestões de palestrantes e de colegas do curso, que revelavam-me em conversas descontraídas, atitudes significativas que faziam a diferença. Entretanto, geraram-se também, outras tantas, que necessitarão com certeza de respostas que precisarão ser estudadas e discutidas.
Observo que as crianças quando chegam na Brinquedoteca, ficam encantadas, correndo de um lado para o outro, colocando e tirando fantasias, brincando com os fantoches, escolhendo jogos etc, demonstrando uma certa frustração quando percebem que o tempo acabou. Este fato prova que é necessário um olhar mais atento em relação ao tempo de permanência, ao número de visitações, ao tipo de atividades livres ou direcionadas, favorecendo assim, momentos de prazer que desencadeiam nelas, novas formas de aprendizagens.
Atualmente, em conjunto com a equipe da brinquedoteca, tentamos conscientizar as pessoas que nos procuram, esclarecendo o que de fato representa esse espaço, demonstrando nossa preocupação quanto as áreas do conhecimento que podem vir a ser desenvolvidas durante as visitas, através de atividades lúdico-pedagógicas, que auxiliarão no desenvolvimento dos alunos, nas áreas de maior interesse ou necessidade.
E, para que o espaço das brinquedotecas seja reconhecido como ambiente que favorece a aprendizagem de forma lúdica, acredito, ser necessário à dedicação dos profissionais que trabalham nesta área, os quais devem oportunizar e divulgar cada vez mais este ambiente lúdico, assim como dar um lugar justo, ao brincar, em nossa vida, orientando inicialmente os adultos, (professores, pais e comunidade em geral) através do diálogo, provando que este pode vir a ser um espaço alternativo, desencadeador de aprendizagens, que muitas vezes, em ambientes tradicionais como a sala de aula, encontram dificuldades de serem alcançadas.
Apesar de ainda ser recente, esta visão da aprendizagem relacionada a ludicidade, observo que já existem muitos educadores, que acreditam nesta proposta, pois é possível presenciar, salas de aula transformadas em pequenas brinquedotecas, no qual o espaço tradicional dá lugar ao espaço lúdico, proporcionando aos alunos a curiosidade, a exploração e a criatividade
Percebe-se que as mudanças ocorridas ao longo da história da humanidade, necessitaram de um considerado período de tempo, para se concretizarem. Acredito, portanto, não ser diferente no caso do espaço reivindicado pelas brinquedotecas, bastando a inquietação de educadores conscientes do seu verdadeiro papel.
Agosto de 2005
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