MUSEU DO BRINQUEDO DE BRUXELAS – MUSÉE DU JOUET DE BRUXELLES
por Cyrce Andrade
MUSEU DO BRINQUEDO DE BRUXELAS – Musée du Jouet de Bruxelles

Escrever sobre brinquedos e museus é contar uma história. Foi assim com o Monsieur André Raemdonck, quando escreveu “Le Musée du Jouet de Bruxelles – sua história, suas exposições, seus brinquedos”, quase um romance. Devo agradecê-lo, desde já, pela prazerosa leitura e pelas informações que integram essa matéria. Além das sucessivas acolhidas! Como ele, também me propus a fazer um convite aos leitores contando uma história.

“Foi num tempo que os mais-velhos chamam de antigamente”, diz Ondjaki no livro que repousa sobre a minha mesinha de cabeceira. Há um antigamente guardado dentro de cada um de nós, penso eu. E há também “antigamentes” coletivos e os sucessivos, de várias épocas passadas. Sempre me pareceu que eles envelhecem quando esquecidos e remoçam quando lembrados, pois era isso mesmo que acontecia com os velhos vestidos da minha avó, ressuscitavam quando pulavam do armário para as minhas mãos de menina, curiosa por saber a que festa tinham ido, com que sapatos tinham sido usados, ainda sou capaz de sentir seu cheiro de roupa guardada! Mesmo em meio a um atchim depois do outro, o mundo dos ‘‘antigamente” sempre me encantou.

Dentre as experiências inesquecíveis, estão as visitas ao Museu do Brinquedo de Bruxelas. A magia do casarão antigo e a carinhosa acolhida nos fazem pensar que entramos na residência de um velho conhecido. Os trabalhos permanentes de instalação, restauro, manutenção, ampliação dão vida à casa. Há tantas e tantas coisas pelo caminho: cantos de olhar, cantos de brincar, exposições permanentes e temporárias, abertas 366 dias por ano! No segundo fim de semana de janeiro a entrada é gratuita para visitantes acompanhados de um ursinho ou outro bicho de pelúcia. Afinal, reunidos, os brinquedos ganham ainda mais vida.

O clima aconchegante do casarão tem um nome: André Raemdonck, indefinível pelos títulos de diretor ou colecionador. Ele é apaixonado pelo seu ofício e por cada um dos brinquedos que compõem o seu museu. Em uma das minhas visitas, comentou que o serviço de legenda dos brinquedos era bastante trabalhoso e ainda estava em curso. Portanto, ele estava disponível para me prestar as informações que quisesse sobre qualquer objeto do Museu! Isso era, sem dúvida, muito mais do que uma visita guiada. Mais do que esclarecimentos de um grande conhecedor, ele exala seu encantamento. Encantamento que transformou sua coleção privada em um patrimônio de todas as crianças, as de agora e as de antigamente.

Sua forma sensível e bem humorada enche de histórias interessantes a sua prosa e o livro do museu. Para ilustrar, escutem uma delas: diante da fala de uma mãe: “Saiba que este é o único brinquedo com o qual eles brincam espontaneamente todo o tempo (a propósito de uma Arca de Noé e seus animais)”, o diretor do museu comenta: “Que linda homenagem a um brinquedo, que tendo perdido o aspecto de novo, apresenta-se desgastado, mostra assim que tem uma história, como um selo postal usado. Ele serviu. Ele cumpriu o uso para o qual foi destinado”.

A réplica de um pequeno teatro de papel em dimensões de um palco gigante é um dos atrativos do museu. É também cenário de animações para as crianças. Dentre as inúmeras atrações do Museu, escolhemos contar um pouco mais desta história.
Os teatros de papel pertencem à categoria do “pré-cinema”, uma tradição espantosa do início do século XIX, uma viagem ao período de 1800 a 1920. As pessoas viviam em vilarejos, os privilegiados deslocavam-se em carroças ou diligências para ir ao teatro, diversão de luxo. Em vários países, Alemanha, Áustria, Dinamarca, Inglaterra e França (mais tarde na Espanha) os editores astuciosos visavam o mercado dos pequenos teatros de papel (a serem montados) com textos adaptados do repertório real, mostrados pelos camelôs de albergue em albergue, de vilarejo em vilarejo, interessando auditórios ainda privados do cinema. Como a lanterna mágica, o teatro de papel caiu em desuso com o aparecimento dos meios de transporte e comunicação, com a eletricidade, o rádio, o cinema e a televisão. Eram folhas pré-impressas de cenários, bastidores, personagens para colorir ou já coloridas. No Museu percebemos que esses coloridos de mais de um século tem uma vivacidade, uma densidade e um vigor inacreditáveis. Os teatros de papel passearam em uma exposição itinerante organizada pelo Museu, com vários teatros montados nas vitrines em 3D e ateliês de construção. Essa é uma nova forma de fazê-los viajar, como no tempo em que visitavam pequenos vilarejos, no seu tempo de “antigamente”.

Não apenas os teatros, mas também os ursos, as bonecas, os carros, cavalos e outras engenhocas, os ateliês, os doutores dos brinquedos nos deixariam horas e horas nessa gostosa conversa sobre a história dos brinquedos. Mas bom mesmo é vê-los, se possível, tocá-los. No Museu os brinquedos tocáveis estão entremeados com aqueles apenas visíveis, o que traz o delicioso barulho das crianças brincando e a vida ao velho casarão, caverna de Ali Baba para todos os jovens de 2 a 102 anos, como nos provoca o Mr Raemdonck.

A Bélgica é o país em que as pequenas estações de trem dos brinquedos antigos parecem renascer em grande escala ao lado das casinhas de tijolos vermelhos. Talvez não seja tão difícil imaginar essa viagem e desembarcar no “ Musée du Jouet de Bruxelles”. Como cortesia, fornecemos com prazer o ingresso: www.museedujouet.eu . Boa viagem!

24/08/2009

 

 

 
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